Comportamento - O Fetiche Com A Morte



Ontem foi o velório da minha avó. Ela morreu aos 91 anos pois, já estava se agarrando a um fiozinho de vida, que não suportou as baixas temperaturas que andam fazendo aqui em Belo Horizonte.

Mas esse post não é sobre a minha avó, ou sobre a tristeza que é dizer adeus. Esse post é sobre o fetiche que as pessoas, especialmente o cristianismo têm com a morte.

Eu, como membro da família tive que ficar lá, fazendo cara de tristeza e recebendo as pessoas que, por convenção social, foram lá só pra falar "meus sentimentos". Nunca vi tanta família reunida. Parece que o único momento no qual conseguimos reunir a família toda foi na hora da morte da matriarca. O choro absurdo de pessoas que não viam minha avó há décadas, enquanto um padre genérico, funcionário da funerária, ia lá para abençoar o corpo e dizer palavras de conforto aos visitantes cristãos.

"A perda é muito grande" eu ouvi. Essa frase me irritou profundamente pois só revelou um sentimento egoísta de uma pessoa que mal conhecia a D. Ilma e que não sabe o quão melhor a partida me pareceu. O egoísmo daquela pessoa, mexeu mais comigo do que a própria morte da minha avó. Claramente ela não viu ou não enxergou o sofrimento que era o resto de vida de D. Ilma.

De outras eu ouvia "Ela está tão bonita, com um semblante de paz": Sim, o maquiador fez um bom trabalho. Meus sentimentos.. Meus pêsames.. Você lembra de mim? Você me reconhece? Você é a Camilinha? Como cresceu e está linda! Oi primo! Oi prima! Camila deixa eu te apresentar sua tia avó... Fale baixo... Não cante Spice Girls....

E tudo que eu conseguia pensar era em como esse modelo de cerimônia é negativo. Por que tratar a morte de forma negativa, ainda mais quando é uma pessoa que viveu plenamente até os 91 anos de idade! Fazendo hora extra nesse plano. Quem determinou aqueles arranjos genéricos brancos, com aquelas faixas cafonas de adeus? Quando foi que a passagem se tornou algo tão livre de personalidade, genérico e pior: capitalizado. Na casa funerária tinha um Scotch Bar!

Se a morte faz parte do ciclo de vida de todos os seres vivos, porque não celebrar de forma colorida, alegre e acolhedora, fazendo coisas que a pessoa gostava de fazer, comendo as comidas que ela gostava de comer e compartilhando lembranças e momentos que você teve com essa pessoa e porque ela foi importante na sua vida. Vamos celebrar um ciclo de vida e não egoisticamente lamentar a perda de alguém.

Melhor eu escrever logo como vou querer que tratem meu velório. Que tenha bastante cores, música, comida vegana gostosa, álcool e muitas boas lembranças.

E nada de meus sentimentos.


Imagem:

Animação o dia que a morte caiu de amores pela vida.

Comentários

  1. Realmente a morte é um momento muito triste. Mas eu também quero músicas no meu velório: Navigate the seas of the sun e Eternal. Bruce Dickinson.

    Eu tenho um blog, passa lá pra ver:
    www.virulenciamental.blogspot.com.br

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  2. Oi! Obrigada por comentar. A morte é triste para quem fica por uma questão cultural, esse é o ponto. Da mesma forma que o nascimento faz parte de um ciclo, a morte também o faz e na minha opinião, da mesma forma que o nascimento é celebrado, a morte também deveria o ser :) É complexo e causa controvérsia. Vou passar no seu blog e te seguir. Se curtiu o meu, segue também ;*

    Beijos

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