Série Mulher Maravilha Parte 2 - Mulher Maravilha ou Steve Maravilha?


ESSE POST CONTÊM SPOILERS

Fica triste não Diana. Um dia chegaremos lá.
Continuando com a série Mulher Maravilha (MM), hoje vou criar polêmica. Depois de falar sobre como enfiaram a mitologia cristã minha goela abaixo, está na hora de falar porque o filme NÃO é feminista. São vários os motivos pelo qual falta feminismo no filme, mas como estou escrevendo uma série inteira, vou discutir esse assunto ponto a ponto, cena por cena.  Hoje vou falar da relação Diana + Steve.

Não podemos chamar um filme de feminista, ou falar que é sobre uma mulher, quando seu valor se dá baseado nos homens ao seu redor. Acredito que ninguém tenha percebido o quão infantilizada a personagem é, tudo isso para que Steve possa ensiná-la e mostrá-la como o mundo dos homens funciona. Temos essa super mulher, super forte, conhece 100 idiomas, super inteligente, agindo como uma criança, para assim darmos algum tipo de importância aos homens ao redor dela, especialmente Steve.

Diana é um ser extraordinário, mas eles precisaram transformá-la em um bebê, para que esse ser medíocre chamado Steve pudesse guiá-la. Quando eu vi essa infantilidade, na cena do barco, assim que eles saem da ilha das amazonas, senti que o filme precisava garantir que os homens não sentissem sua masculinidade ameaçada. Eles precisavam de alguém com o qual pudessem se identificar, que não fosse a Mulher Maravilha (afinal ela é uma mulher), já que, de acordo com a maioria dos homens (mesmo que não admitam isso em voz alta), mulheres fortes e independentes são assustadoras!

Logo no início isso já fica bem claro quando, no barco ela diz que sabe que não precisa de um homem para ter prazer, e que sabe bastante sobre os prazeres da carne pois leu 12 volumes sobre o assunto. Isso não foi feminista. Excluir um homem de uma discussão sobre prazer não leva a lugar nenhum, uma vez que no feminismo nós buscamos equidade e não exclusão. A sexualidade feminina é tratada como taboo e mantida em segredo, e, excluir homens da discussão, só vai fazer com que eles continuem sem ter a mínima empatia e compreensão.  Além disso, como, uma pessoa de 3.000 anos, em uma ilha cheia de mulheres, nunca experimentou transar com alguma outra? Em 3.000 anos! Claro, que mais pra frente eu descobri o porquê. Steve, mais uma vez deve guiá-la. Temos uma cena, onde subentende-se que eles transaram. Durante todo o filme vê-se a preparação para esse momento, da hora em que temos uma big dick joke, depois no momento do barco, onde temos a virginal Diana falando sobre sexo, e por fim, basta o Steve convidá-la para dançar e soltar uma pick up line picareta que ele recebe o prêmio Pica das Galáxias e ganha a garota.


O romance nesse filme é tão desnecessário que me pareceu totalmente superficial e forçado, como se fosse feito só para prestarmos mais atenção ainda a Steve. Diana pode até ter sido vendida como personagem principal do filme, mas a todo momento o roteiro e a câmera nos lembra que o Steve está por lá, só em caso de você ter esquecido. Steve é quem resolve todos os problemas. A Mulher Maravilha é simplesmente a porradeira na linha de frente, o que me é bem estranho. Na ilha das amazonas, com certeza ela não estudou apenas batalha campal, mas também estratégia de guerra e política. Não podemos ter uma guerreira tão impulsiva a ponto de ignorar isso tudo, e se deixar ser excluída dessa parte, deixando tudo a cargo do Steve (Steve Maravilha aí de novo).

Então, Diana sai por Londres e sabe-se lá onde a fora, pedindo para o Steve a levar para guerra da mesma forma que uma criança pede para o pai para levá-la ao parque de diversões,  quando, ela vê esse general super mau e chega a conclusão que ele é Ares, e que, derrotando-o todos dariam as mãos e começariam a cantar kumbaiá. Logicamente (por que esse filme é mais do que previsível), ela  mata o cara, e, em desespero vê que nada mudou. Parabéns Diana, agora você conhece um sentimento chamado decepção.

Revoltada, ela encontra Steve Pica das Galáxias Trevor, e desabafa. Diz que os homens (no caso ela quer dizer a humanidade) não a merecem e que ela nunca deveria ter saído de seu lar. Steve, faz um discurso breve sobre não ser sobre merecimento mas sobre o que você acredita, e que ele não poderia fazer isso (trazer a paz?) sem ela. Gostaria de frisar aqui que esse é o primeiro momento em todo filme (o segundo é bem no finzinho, antes de morrer) que ele dá algum tipo de valor para a Diana (ele a reconhece como alguém forte e útil em batalha), pois durante todo filme, ele duvida dela com relação a tudo. Duvida das suas crenças, duvida de sua força, duvida de sua capacidade de resolver conflitos, etc.

Esse é um dos excelentes momentos perdidos para abrir um questionamento mais profundo sobre a questão de guerras e violência em geral. Essa Deusa de 3.000 anos não questiona nada? Cadê a sabedoria dos Deuses nesse momento? A oportunidade de questionamento passa e vira um simples tô #chatiada. Logo em seguida ela descobre que o general que ela matou, não era Ares. Ares aparece para Diana, revelando o que ela de fato é (mansplanning alert!) e tenta convencê-la a juntar-se a ele. Como esperado, ela se recusa e começamos uma batalha onde ela apanha muito, até o momento em que o Steve aparece! Claro, porque uma mulher não pode soltar todo seu potencial a menos que um cara apareça.

Steve fala algo inaudível inicialmente (mas é tipo um I Love You da vida), pula no avião, e como um piloto kamikaze, explode um zepelim cheio de bombas (super heróico) e morre. A Diana entra em modo Berserk, e, usando o discurso do Steve sobre merecimento e crença (por que né, ela não pode ter a própria frase de efeito), ela liberta todo seu potencial e derrota Ares, levando junto uma base alemã inteira! Toda aquela tristeza por causa da violência e das pessoas se matando vão embora. Ela pode matar todo mundo porque ficou triste com o sacrifício do Steve, mas as pessoas em guerra por território não podem sair matando umas as outras? Qual é a grande diferença? A motivação?

No início do filme, ela fica extremamente incomodada com tantas pessoas morrendo, não importando se são soldados ou civis, ou se são ingleses ou alemães, mas de repente ela pode explodir uma base inteira, cheia de pessoas, sem se importar com as vidas que estão lá presentes, em parte, por causa do Steve, esse cara que ela conhece há 3 dias. Vou repetir: Ela mata um monte de gente enquanto fala que acredita no amor. No AMOR! Querendo ou não, mais uma vez, foi Steve quem salvou o mundo, já que, foi a morte dele a grande motivação para que ela soltasse seu grande potencial.

Em uma comparação bem clara, jamais vi a Lois Lane participar tanto de um filme do Superman, da forma como o Steve participa em Wonder Woman. Sobre quem é o filme? Uma Amazona bad ass ou sobre um cara que um dia encontrou uma Amazona e resolveu ajudá-la? Mulher Maravilha ou Steve Maravilha?

O filme pode até ser divertido para algumas pessoas (não para mim que quase dormi), mas definitivamente não é feminista.




Comentários

  1. Vi seu comentário no site no de oito e escrevi mó textão pq vc foi a única mulher que vi até agora que não AMOU esse filme. Como as pessoas não viram tantas pisadas na bola? até agora sigo perplexa. Uma das coisas que mais me irritou mesmo foi que retrataram a Diana como uma pessoa estilo tarzan totalmente ingênua, e desnorteada. Ela que fala no próprio filme que fala mais de 100 línguas, mostrado também que é uma guerreira treinada desde criança para alcançar excelência intelectual e física, esse aspecto dela ser tão inteligente quanto é forte foi bastante diminuído na trama. Ela só serviu p sair dando murro em tudo. Gostei muito mais da cena dela em Batman vs Superman onde ela chega do nada, nenhum homem teve que guia-la para aquele momento, chega para batalha, desce o pau no inimigo o os caras ficam um olhando para cara do outro sem entender muita coisa. Essa é a mulher maravilha que eu imaginei que seria retratada no filme, que sabe o que faz, é' unapologetic', é forte, é inteligente. Realmente sai decepcionada do cinema, acho que minhas expectativas estavam muito altas kkkkkk

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    1. Oi Barbára! Obrigada pelo comentário.
      Então, eu detestei tanto, mas tanto que ainda tenho outros dois rascunhos só sobre os absurdos daquele filme, sendo um sobre a questão de representatividade racial, tanto indígena quanto negra.
      Não concordei quando a turma da nó de oito falou que a Alice, de Resident Evil cai no trope da mulher fodona mas desprovida de sentimentos. Muitíssimo pelo contrário. Ainda digo mais: A Alice tem muito mais consciência, sentimento e é mais bad ass que a Diana. Também tenho um rascunho só sobre como a Alice é melhor, ainda não postado hehe.
      A DC se aproveitou desse mercado do empoderamento (fenômeno bem apontado no Geledés) pra vender um filme machista, fantasiado de feminista e sair do buraco. Ainda estou pasma e me perguntando se eu vi o mesmo filme que essa galera.

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